Imagem de satélite de Santorini. |
Santorini é uma pequena ilha que pertence às Cíclades, no mar Egeu, conhecida pelas suas excêntricas paisagens com encostas íngremes e pelo casario de cor branca com terraços e outras com cúpulas azuis. Este destino paradisíaco de cores suaves conjugadas com o mar calmo que circunda a ilha torna este destino muito procurado por turistas, especialmente através de escalas dos navios de cruzeiro. Mas, Santorini possui ainda duas outras cores dominantes; são elas o negro do basalto e o vermelho ferrugem, caraterístico de alguns produtos vulcânicos. Estas últimas cores, associadas à geografia da ilha, configuram um passado violento de elevado poder destruidor. Efetivamente, Santorini foi palco, talvez, da maior catástrofe natural descrita por um ser humano.
Santorini já teve vários nomes; um dos últimos foi “Thera”, pronuncia-se “Zira”. A designação de Santorini resulta de uma igreja local dedicada ao culto de Santa Irene, devendo-se aos marinheiros estrangeiros, sobretudo venezianos que a designavam por “Santa Irini”; ao longo do tempo esta designação foi dando lugar a Santo-Rini, até ao nome atual.
Por volta de 1500 a. C., Santorini era uma ilha mais ou menos circular com uma atividade vulcânica considerável. Esta atividade intensificou-se e terá atingido um violento clímax que culminou com o abatimento de grande parte da ilha, resultante do esvaziamento da câmara magmática. O processo de colapso ocorre com o esvaziamento da câmara magmática durante uma grande erupção vulcânica, que poderá lançar até 100 km³ de material magmático (lava e piroclastos). Sem a ascensão de novo magma a câmara fica vazia e não suportará o peso exercido sobre ela, ou seja, o peso de alguns quilómetros quadrados da superfície terrestre. Formou-se assim uma imensa depressão designada por caldeira, com uma profundidade de cerca de 400 m e com 11 Km de comprimento no seu diâmetro maior. A caldeira de Santorini é considerada a maior do mundo.
Este fenómeno foi o responsável pela atual geografia da ilha em forma de quarto crescente e com alguns fragmentos da ilha original. Os efeitos colaterais desta catástrofe natural não ficariam por aqui. Com efeito, o abatimento de dois terços da ilha acompanhada de uma sucessão violentos sismos, originou um gigantesco tsunami, cuja altura da onda foi estimada em cerca de 200 m. Esta onda deslocou-se em direção a sul tendo atingido o Egito embora de forma suave mas, neste trajeto, encontra-se a ilha de Creta, a escassos de 70 Km de Santorini. A elevada velocidade de propagação desta onda destruidora levou-a a atingir Creta em apenas 20 ou 30 minutos, com uma altura estimada de 70 metros, de acordo com alguns trabalhos científicos. O impacto do tsunami na ilha de Creta foi um terrível desastre. As cidades e aldeias da ilha foram destruídas em segundos. Se nos lembramos que Creta era, nessa altura, o berço de civilização Minoica, uma civilização muito desenvolvida com um sistema de escrita em espiral, o linear B que, até hoje, não foi decifrado (pesquisar disco de Phaistos, no Google), então temos a verdadeira dimensão deste cataclismo natural. Por este motivo, esta catástrofe é frequentemente associada ao mito da Atlântida, referida por Platão. Para além deste autor, não se conhecem registos deste cataclismo mas, para podemos ter uma ideia da verdadeira catástrofe, podemos compará-la com uma semelhante, ocorrida a 27 de agosto de 1883, a ilha de Krakatoa, situada no estreito de Sunda, entre Java e Sumatra, na Indonésia. A caldeira resultante deste fenómeno tem uma profundidade de 200 m, tendo a ilha perdido 33 Km quadrados. A caldeira de Santorini tem uma superfície 2.5 vezes maior e uma capacidade em volume cinco vezes maior. O volume de água deslocado em Krakatoa é estimado em 837.5 triliões de metros cúbicos enquanto o de Santorini é estimado em 41.875 triliões de metros cúbicos. A consequente altura da onda do tsunami gerado em Santorini foi estimado em 200 metros enquanto em Krakatoa foi de 100 metros. Podemos concluir que o cataclismo natural de Santorini foi o maior ocorrido neste planeta, presenciado pelo Homem, assemelhando-se a um verdadeiro Apocalipse da Terra.
Vista de Fira situada no topo do bordo de uma caldeira vulcânica. |
As cúpulas azuis das igrejas ortodoxas, um dos postais de Santorini. |
Como sugestão deixo uma dica para os candidatos a visitantes de Santorini. No final do dia de visita, ao pôr do sol, inicia-se a viagem para o regresso ao navio de cruzeiro, todo o percurso que foi feito para chegar à cidade de Fira é necessário fazê-lo em sentido contrário. Claro que a maioria dos visitantes utiliza o teleférico. Não foi o nosso caso, resolvemos descer a pé os mais de 500 degraus da escadaria ziguezagueante… e valeu bem a pena; o esforço é reduzido, apenas as pernas se podem ressentir por andarem todo o dia em pé mas, a paisagem originada pela enorme extensão de mar, as cores branca e azul e principalmente o pôr do sol fantástico constituem um paraíso para os amantes da fotografia. Recomendo vivamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário